O CENTRO DO MUNDO
Onde mesmo que fica o centro do mundo? Eu sou o centro do mundo. Simplesmente porque ninguém pode ver o mundo como eu vejo, nem ouvi-lo como eu ouço, nem degustar seus prazeres e desprazeres como eu degusto, nem cheirar seus cheiros ou tateá-lo como eu.
O mundo é o que é, dependendo de mim. Ele é para mim o que eu sei e experimento dele.
Eu sou o centro do mundo porque é tão somente a partir da percepção que eu tenho dele que ele existe para mim. Eu sou o centro do meu mundo.
E você? Você também é o centro do mundo. Você é o centro do seu mundo. Aplique a você o que eu disse antes. Você tem uma percepção que é só sua. Vemos o mundo de ângulos diferentes, de formas diferentes, de cores diferentes, nossa audição percebe os sons diferentemente, cada um com seu gosto musical e seus desgostos, nossos paladares são diferentes, assim como o cheiro e o tato são sentidos diferentemente por cada um de nós.
No entanto, nossos mundos tão diferentes se entrecruzam, se enriquecem. São mundos que se dialogam constantemente na sutil arte da boa convivência. São mundos que se chocam na violência de antagonismos que são reais ou criados pela forma com que cada um sente o próprio mundo em confronto com o mundo do outro.
Colocada esta livre reflexão, vou aplicá-la para as consequências para a vida:
Em primeiro lugar, se eu sou o centro do mundo "para mim", e você é o centro do mundo "para você", nem eu nem você somos centros absolutos.
Eu tenho que ter a consciência de que para você: "você é o centro do mundo"; assim como para mim: "eu sou o centro do mundo". Dizendo de outra forma: "você não é o meu centro nem eu sou o seu centro!"
Consequentemente cabe a mim viver a minha vida e a você viver a sua vida. Não posso colocar a minha vida nas mãos de outra pessoa, nem me fazer dono do que não me pertence, a vida do outro não me pertence. Não sou dono de ninguém bem como a ninguém pertenço como propriedade.
Na medida em que tomo consciência de que eu sou o centro do mundo apenas para mim mesmo, fico mais humilde pois sei que não serei jamais o centro das atenções, nem o centro da vida de quem quer que seja. Aprendo também que a importância que tenho é a importância que me dou, e nunca a importância que os outros me dão. Livro-me da ideia de que sou importante se for reconhecido como importante. A opinião que vale sobre mim é a opinião que tenho sobre mim.
Deste modo, na consciência de que sou muito importante para mim e não para os outros, viverei mais levemente e menos preocupado com o julgamento alheio, pois cada um julga o outro a partir da centralidade dele mesmo.
Eu tenho minha própria centralidade, e para mim o julgamento que faço sobre mim mesmo é o que conta, e não as opiniões alheias. Afinal, eu descobri que os "inumeráveis mundos que me circundam, cada qual achando-se no centro", pouco estão ligando para o que eu sou ou deixe de ser, o que eu faço ou deixe de fazer, o que penso ou deixo de pensar, etc.
Então me resta viver, tentando ser feliz na minha desimportância para o mundo, mas na importância que vou construindo para mim mesmo em meu próprio mundo. E, você também, pense nisso: "A importância que você tem é a importância que você mesmo se oferece!"
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